sábado, 18 de fevereiro de 2012

Aumentem o nível, pleeaase!

Afastei-me porque já não posso repetir telejornais atrás uns dos outros, re-escutá-los, com o padrão subtilmente diferente, pessimista, aterrorizador, catastrofista. As histórias de sucesso vêm sempre em rubricas à parte, Ensina-se o povo afastar-se da informação, que é agora guardada apenas para os expert do catastrofismo

Faço votos para que isto mude. Não porque o meus filhos, amigos de filhos, pais recentes e criativos estejam todos na fase dos 30. Mas porque eu tenho de recomeçar de novo num país onde os quinquas sejam bem vindos, Parece que é a Islândia e a Noruega.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Terça-feira de Carnaval, sim!

Precipitei-me, não pensei...reconheço. Mas errare humanum est e, depis de relembrar, pensar e ouvir os argumentos de tantos profissionais do turismo e de tantos autarcas empenhados, compreendo: A terça-feira de Carnaval deve continuar como festa institucionalizada, porque o povo precisa, o turismo precisa e não há economia que engorde enquanto todo o país emagrece!
O argumento que mais me sensibilizou foi o de um hoteleiro da Serra da Estrela: "diminuimos os programas, damos 50% de desconto e refeições gratuitas para as crianças..."
E uma turista portuguesa acrescentou: " não temos mais nada, nem fins de semana inteiros com a família, nem podemos pensar, eles decidem".
Não acho que seja o bom caminho. No blog do Dr. Ribeiro e Castro eu disse, no calor dos primeiros co,mentários, outra coisa. Mas mudei de ideia e estou contente por isso. Sejam felizes, "se Faz Favor", como diria o nosso grande Raul Solnado.
E o vai acontecer no Carnaval da Figueira?

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Morreu a Poeta WISLAWA SZYMBORSKA

A poetisa polaca Wislawa Szymborska, Nobel da Literatura de 1996, morreu esta quarta-feira, aos 88 anos. Deixou uma obra que é uma reflexão filosófica e lúcida sobre o mundo, impregnada de humor e de um grande lirismo.





Quatro Poemas
Tradução: Ana Cristina Cesar

Quarto do suicida


Vocês devem achar, sem dúvida, que o quarto esteve vazio.
Mas lá havia três cadeiras de encosto firmes.
Uma boa lampada para afastar a escuridão.
Uma mesa, sobre a mesa uma carteira, jornais.
Buda sereno, Jesus doloroso,
sete elefantes para boa sorte, e na gaveta - um caderno.
Vocês acham que nele não estavam nossos endereços?


Acham que faltavam livros, quadros ou discos?
Mas da parede sorria Saskia com sua flor cordial,
Alegria, a faísca dos deuses,
a corneta consolatória nas mãos negras.
Na estante, Ulisses repousando
depois dos esforços do Canto Cinco.
Os rnoralistas,
seus nomes em letras douradas
nas lindas lombadas de couro.
Os políticos ao lado, muito retos.


E não era sem saída este quarto,
aos menos pela porta,
nem sem vista, ao menos pela janela.
Binóculos de longo alcance no parapeito.
Uma mosca zumbindo - ou seja, ainda viva.


Acham então que talvez uma carta explicava algo.
Mas se eu disser que não havia carta nenhuma -
eramos tantos, os amigos, e todos coubemos
dentro de um envelope vazio encostado num copo.



*

Retornos

Voltou. Não disse nada.
Parecia muito perturbado.
Deitou sem tirar a roupa.
Escondeu se debaixo do cobertor,
as pernas dobradas.
Tem quarenta anos, mas não neste momento.
Está vivo - mas como no ventre materno
atrás de sete peles, na escuridão que o defende.
Amanha dá palestra sobre homeostasis
na cosmonáutica metagalática.
Por enquanto se encolhe, adormece.


*

Os filhos da epoca

Somos os filhos da época,
e a época é política.
Todas as coisas - minhas, tuas, nossas,
coisas de cada dia, de cada noite
são coisas políticas.
Queiras ou não queiras,
teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um brilho político.
O que dizes tem ressonância,
o que calas tem peso
de uma forma ou outra - político.
Mesmo caminhando contra o vento
dos passos políticos
sobre solo político.
Poemas apolíticos também são políticos,
e lá em cima a lua já nao dá luar.
Ser ou não ser: eis a questão.
Oh, querida que questão mal parida.
A questão política.
Não precisas nem ser gente
para teres importância política.
Basta ser petróleo, ração,
qualquer derivado, ou até
uma mesa de conferência cuja forma
vem sendo discutida meses a fio.
Enquanto isso, os homens se matam,
os animais são massacrados,
as casas queimadas,
os campos se tornam agrestes
como nas épocas passadas
e menos políticas.


*

Céu

Era preciso comecar daí: céu.
Janela sem encosto, sem moldura, sem vidraça.
Abertura e nada mais, porém muito bem aberta.
Não preciso aguardar a noite amena:
nem levantar a cabeça
para perscrutar o céu.
Tenho céu atrás de mim, sob as mãos
e debaixo das pálpebras.
Estou enredada de céu
e isto me exalta.
Nem as montanhas mais altas
Estão mais próximas do céu
que os vales mais profundos.
Nao há mais céu num lugar
do que em outro.
A nuvem está atada ao céu
indiferente como o túmulo.
A toupeira é tão feliz
quanto a coruja que abre as asas.
O objeto que cai no precipício
cai do céu no céu.
Partes poeirentas, léquidas, montanhosas,
passageiras e queimadas do céu, migalhas do céu,
brisas de céu e montes.
O céu é onipresente
até nas trevas sob a pele.
Devoro o céu, rejeito o céu.
Estou com armadilhas na armadilha,
com o habitante instalado,
com o abraço abraçado,
com a pergunta presente na resposta.
A divisão entre céu e terra
não foi pensada de forma adequada
a respeito desta unidade.
Permite até que se sobreviva
no endereço mais exato,
que pode ser achado mais depressa
se me procurarem.
Os meus sinais característicos são
o arrebatamento e o desespero.


(em: "Antologia de 63 poetas eslavos", tradução e
organização - Aleksandar Jovanovic - editora Hucitec,
São Paulo, 1996)

*

Museu

Há pratos, mas falta apetite
Há alianças, mas falta reciprocidade
pelo menos desde há 300 anos.
Há o leque - onde os rubores?
Há espadas - onde há ira?
E o alaúde nem tange à hora gris.
Por falta de eternidade juntaram
Dez mil coisas velhas.
Um guarda musgoso cochila docemente,
com os bigodes caindo sobre a vitrine.
Metais, barro, plumas de ave
Triunfam silenciosamente no tempo.
Apenas um alfinete da galhofeira do Egito ri zombeteiro.
A coroa deixou passar a cabeça.
A mão perdeu a luva.
A bota direita prevaleceu sobre a perna.
Quanto a mim, vivo, acreditem por favor.
Minha corrida com o vestido continua
E que resistência tem ele!
E como ele gostaria de sobreviver!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

poema triste de neve

terrível endereço que me deste
nem reconheço as subtilezas ou desvios
pensei que a neve era o espraiar da luz do frio
que o brilho
podia aquecer a alma
como um cipreste a adejar no espelho
de um braço do meu Mondego
do meu rio preferido
um irmão mais velho